O ecofeminismo é um tema que ainda é pouco discutido no Brasil, mas que é de extrema importância para o mundo que idealizamos. Esse movimento se formou na década de 70 quando começamos a reconhecer a existência da formação da crise ambiental no mundo, impulsionado pela revolução industrial e o capitalismo.

Em 1974, a feminista francesa Françoise d’Eaubonne criou esse termo, ecofeminismo, em  sua obra “Le Feminism ou la Mort” (Feminismo ou a Morte), para explicar como a luta pelos direitos das mulheres está relacionada com as reivindicações por um mundo mais sustentável. Assim, podemos dizer que o ecofeminismo é um movimento teórico e prático que faz com que a gente seja contra todas as formas de exploração, desde a exploração da natureza, animal até a exploração humana. 

Mas aí você deve estar se perguntando: qual é a relação entre a mulher e o meio ambiente?

Respondendo a essa pergunta, muitas pesquisas apontam que, embora as mulheres sejam as menos responsáveis pelos impactos ambientais, elas são as mais atingidas por ele. Segundo a ONU, as mulheres correspondem a 80% das pessoas que são obrigadas a sair de seus lares, refugiando-se em outros lugares devido aos impactos das mudanças climáticas. Isso se deve, principalmente, porque as mulheres constituem a maior parte da população pobre do planeta, além de terem menor poder socioeconômico, o que as deixa menos possibilitadas de combaterem e de se adequarem às mudanças climáticas.

Vamos observar alguns dados importantes: 

  • As mulheres constituem 70% das 1.3 bilhões de pessoas que vivem em condições de pobreza;
  • Em áreas urbanas, 40% das casas mais pobres são comandadas por mulheres;
  • Elas são responsáveis por grande parte da produção de comida no mundo (entre 50 e 80%), mas possuem menos de 10% das terras;
  • A média de representação das mulheres nos órgãos de negociação climática nacional e global é inferior a 30% (2018).

Considerando todos esses fatos, o Acordo de Paris (2015) apoiou a capacitação de mulheres ao reconhecer que elas são desproporcionalmente impactadas.

Agora, falando um pouco mais sobre o ecofeminismo: ele consiste em um movimento que vai trazer a consciência de que a Terra é um organismo vivo e que O Homem tirou essa visão para que nós pudéssemos explorar a Terra. 

Segundo Vandana Shiva (física, filósofa, pacifista e feminista, é uma das pioneiras do movimento ecofeminista e diretora do Research Foundation for Science, Technology and Ecology), foi necessário tirar essa calidade da Terra para que nós pudéssemos explorar essa visão masculinista, em que o homem deixa de ver a Terra como um recurso e passa a ver como algo que tem que ser vencido, conquistado, dominado e explorado para atender as necessidades e vontades dele.

Mas infelizmente, não é apenas a natureza em si que é explorada, existem muitos povos indígenas, nativos, mulheres, minorias, que são explorados. Assim, o ecofeminismo veio trazer essa conexão, não apenas entre a exploração da terra e a exploração da mulher, e sim, a exploração como um todo. Por isso, esse movimento vem para propor uma forma de viver a vida sem que precisemos explorar a natureza, pois essa visão patriarcal ignora o fato de que todos somos interdependentes e de que a Terra é um organismo vivo que possui recursos limitados e que é necessário respeito. 

 A defesa da natureza e o desenvolvimento de uma vida sustentável é o meio que muitas mulheres estão encontrando para não apenas melhorar as condições de vida de sua família e de sua comunidade mas, também, mostrar sua capacidade, competência, força e  coragem para obter liderança e conquistas em sociedades opressoras, discriminatórias e violentas onde vivem.

Ecofeministas declaradas ou não, as mulheres têm tomado a frente na defesa da preservação do meio ambiente, desde aquelas que trabalham e lutam no seu bairro, comunidade, tribo, no emprego, até mesmo as que já se encontram no alto escalão de empresas, de órgãos governamentais e na liderança de organismos não governamentais.

A sensibilidade feminina, aliada à sua força natural, tem sido fator determinante no empoderamento ecofeminista, com destaque para várias líderes mundo afora. As norte-americanas Becky Straw e Jody Landers se conheceram na África e desde então juntaram forças para ajudar pessoas necessitadas e ainda colaborar com a preservação ambiental. Fundaram o The Adventure Project que realiza trabalhos que impactam as áreas da saúde, qualidade de vida, geração de renda e o meio ambiente das comunidades atingidas pelo projeto.

A jovem norte-americana Mariah Smiley, com apenas 14 anos, fundou o Drops Love, que a partir de doações de um dólar, constrói poços artesianos em comunidades carentes da América Latina, onde não há água potável de fácil acesso. 

Na Europa o movimento é bastante organizado, com destaque para movimentos na França e na Espanha. Muitas mulheres, de todas as idades, em vários lugares do mundo, têm se tornado autoras de projetos na área da sustentabilidade, mesmo sem a bandeira do ecofeminismo. 

No Brasil, embora o termo ecofeminismo seja ainda usado timidamente, é comum vermos, espalhadas pelas cinco regiões, líderes femininas em comunidades pobres. No entanto, apesar do discurso oficial, não há programas efetivos de governo e ONG´s, dedicados a investir nessas mulheres. Muitas necessitam de apoio técnico, orientação legal e aporte financeiro mínimo para desenvolver seu trabalho em defesa da preservação ambiental, de seus direitos e assunção de responsabilidade social e ambiental na comunidade em que vivem. Iniciativas brasileiras, nesse campo, já ocorreram: microcrédito, programas assistenciais cujo protagonista responsável por receber o benefício é a mãe de família, etc. No entanto, não alcançaram até o momento uma escala digna de obter um apoio expressivo do movimento ecofeminista.

Com certeza, esse é um bom campo para unir esforços de homens e mulheres, juntos, para buscar qualidade na melhoria das condições de vida não apenas no Brasil, mas no mundo.

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